
Blair Witch (2016)
Enfim. Com praticamente 1 ano de atraso, vi o “novo” Blair Witch. Depois de tudo de mau que ouvi, senti que devia de ver o filme para que vocês não tivessem de o fazer. Fica aqui o meu veredicto.
Antes de começar, quer fazer aqui alguns pontos prévios:
- Em 1999, “O Projecto Blair Witch” chegou aos cinemas apoiado por um marketing impecavelmente pensado, e custou (apróximadamente) 60 000 $ a fazer tendo rendido cerca de 140 539 099 $ (dados IMDb);
- Vamos esquecer que alguém fez uma sequela em 2000... Oh meu Deus...
- O Blair Witch de 2016 custou 5 000 000 $ e rendeu, também nos States, 20 747 013 $ (dados do IMDb).
Isto já explica muito do que vou dizer a seguir.
Esta é uma review SEM spoilers
Vamos começar pelas coisas boas.
Primeiro de tudo, o conceito não está mau. Simon Barrett, guionista de alguns segmentos do V/H/S e V/H/S 2, conseguiu arranjar uma conexão com o original que faz algum sentido e que até me conseguiu envolver (eu estava completamente céptico).
Segundo, ao contrário do original que é uma mão cheia de absolutamente ZERO acontecimentos, este tem pontos na ação que são muito interessantes. As personagens não se limitam a desaparecer, nós percebemos o que lhes acontece. No primeiro, alguns personagens desapareciam e nós ficavamos “o que aconteceu?” e a resposta nunca chegava. Aqui já não é bem assim. Além disso há um dado novo no filme e alguns “poderes” da bruxa são muito originais, sobretudo a forma como consegue manipular o espaço e o tempo. Gostei muito. Bem jogado, pessoas que gastaram 5 000 000 $ para fazer um filme banal! Bem jogado!
Terceiro, Callie Hernandez. De todos os actores, foi a performance que mais se destacou. Em terra de cegos, quem tem um olho é rei... Sim, mas por outro lado é alguém que tem no curriculum filmes como La La Land e Alien: Covenant.
Agora o que mais dói.
Eu sei que sou o realizador de uma coisa chamada MVI8747.MP4. Isso dá-me um crédito que, na melhor das hipóteses, é razoável. Além disso, o found footage não é um género fácil de trabalhar. Mas se com 5 milhões, o melhor que se arranjou foi a Callie Hernandez e mais câmaras... Eu acho que podiam ter feito uma festa melhor.
O filme começa com uma mensagem algures na linha de: “O seguinte filme foi feito a partir de cartões de memória e cassetes miniDV encontrados.” Bom, se foi editado para termos aquele resultado final, está justificada a perfeita sincronia de som entre as múltiplas câmaras. Mas deixa de estar justificada a existência de dezenas de planos de absolutamente nada. Porque se foi editado, esses planinhos de 5 ou 10 segundos de nada, deviam ter sido excluídos... Além disso, parece mesmo que toda a gente tem um microfone. No found footage isso não é cool. A menos que todos tenham efectivamente um microfone e isso seja visível ou explícito, o que não foi.
Depois este Blair Witch é uma autêntica montra tecnológica para filmmakers. Estes tipos foram a mata com 2 DSLr, uma câmara miniDV, um drone DJI Phantom e umas câmaras pequeninas tipo auricular com localizador GPS tipo Guerreiro do Espaço. Isto coloca-me algumas quetões ao nível das baterias... “Ah estás a ser picuinhas...” Não. Ou é Found Footage, ou não é. E nem me façam falar no facto deles terem um DJI Phantom ligado a gravar durante horas a fio ininterruptamente quando qualquer um sabe que nem a bateria nem o cartão de memória iam agentar!
Bem, agora que já me acalmei, vamos ao resto.
É um daqueles filmes em que já sabemos à priori quem é que vai desta para melhor e até a ordem. Isso desagrada-me profundamente. Surpreendam-me, porra.
O climax está bem construído, mas acho que se prolonga demasiado.
Resumindo: no geral o filme não é bom. Espanquem-me com o V/H/S várias vezes por semana, mas tão cedo não me façam olhar para isto.
Na minha opinião, um Found Footage é tão bom quanto melhor me convencer que é efectivamente filmagem encontrada por aí numa estrada qualquer... E isso só acontece se o ambiente for genuíno e o desempenho dos personagens o menos teatral possível. Aqui nada disso acontece.
Acredito que se cruzássemos o primeiro Blair Witch com alguns pormenores deste, teriamos um Blair Witch de que poucos se poderiam queixar. Assim temos só 90 minutos da minha vida que eu nunca mais vou recuperar.
